SAC: (47) 3333.1793

5 coisas que acontecem quando descobrem que você ‘entende de cerveja’

Investir tempo – e dinheiro – no aprofundamento dos conhecimentos cervejísticos é um caminho que vem sendo tomado por um contingente cada vez maior de pessoas, em todo o mundo. Seja por hobby ou profissionalmente, é algo que tem impacto (felizmente, positivo, na maioria dos casos) nas pessoas à nossa volta, e gera alguns efeitos bastante curiosos… e recorrentes. Listei alguns, mas, obviamente, existem muitos outros.

“Mas cerveja não é tudo a mesma coisa?”

É a reação dos verdadeiros inocentes (cada vez mais raros, felizmente), que realmente não sabiam que existe vida além da “tipo pilsen”, a “loura gelada” típica do boteco. Geralmente, ficam maravilhados quando você explica que existem mais de 100 tipos de cervejas, amargas, doces, azedas e até salgadas! E que esta cerveja dourada padrão surgiu há menos de 200 anos, enquanto a cerveja já acumula mais de 5 mil anos de história de uma riqueza cultural e social impressionante. Com sorte, desta pergunta nasce um novo curioso por cerveja, e futuro apreciador…

“Queria ter essa vida boa!”

Essa afeta principalmente o pessoal que efetivamente trabalha ou milita no ramo. Já abordei, de leve, num post passado sobre como é ser blogueiro nesse segmento, mas vale para qualquer um que atue no ramo, seja cervejeiro, sommelier, dono de bar especializado, produtor caseiro de cerveja… As pessoas veem as fotos de cervejas (às vezes, edições raras) e harmonizações que postamos nas redes sociais, e a conclusão é rápida: “Esse aí só se dá bem”. Antes fosse. Selecionamos a parte boa para mostrar para os amigos, mas claro que não fazemos o mesmo com as partes chatas – e, acreditem, cada atividade relacionada à cerveja tem a sua parte muito chata, da qual ninguém escapa. Trabalho é trabalho.

“Ah, lembrei de você!”

À medida que os seus amigos e conhecidos vão vendo a sua produção – teórica ou prática – cervejeira, o efeito “lembrei de você” vai se intensificando. Diante de um rótulo novo a que sejam apresentadas, um cervejeiro caseiro que conheçam, as pessoas “arquivam” mentalmente a referência na sua “pasta”. E depois, claro, vêm comentar contigo. É bom e é ruim. Bom porque significa que elas entenderam que, para você, cerveja deixou de ser simplesmente uma bebida refrescante do dia a dia. E ruim porque, convenhamos… às vezes gostamos de ser lembrados por outras características marcantes.

“Você que sabe tudo de cerveja, diz aí, por que…”

Pausa. Respira. A única resposta cabível, antes de tentar responder à dúvida da pessoa em questão é: “Ninguém sabe TUDO de cerveja. Ninguém mesmo”. Essa introdução pode ser prelúdio para dúvidas simples – “as cervejas escuras são mesmo mais pesadas?” (Não!) – ou complexas – “quando surgiu a cerveja?” (Não se sabe ao certo). Mais importante que a resposta em si, acredito, é escapar da armadilha do “sabe-tudo” de cerveja. Se o estudo for sério – o que não tem a ver com títulos e cursinhos, mas com dedicação e adoção de técnicas adequadas de pesquisa e análise –, o aprendizado é contínuo.

“E qual é a melhor cerveja do mundo?”

É uma dúvida justa, e existem várias maneiras de respondê-la. A maioria das respostas, infelizmente, costuma decepcionar os interlocutores. Eu, por exemplo, não consigo apontar uma que seja A Melhor. Considerando, como disse acima, que são centenas de estilos, muitas vezes tentar estabelecer essa hierarquia é o equivalente comparar bananas com laranjas. Procuro então apresentar as diferentes maneiras de responder. Há quem aponte as notas médias nos fóruns de avaliações de cervejas, como o Beer Advocate e o Ratebeer, mas ambos sofrem com as limitações do viés de disponibilidade de seus usuários. Há quem diga que a melhor é simplesmente aquela que você bebe e gosta, mas essa é uma resposta para agradar a plateia, e ignora que existem diferenças concretas de qualidade entre as muitas cervejas do mundo. Há quem prefira se guiar pelas escolhas do autor x ou y, ou pelas numerosas listas lançadas anualmente por diversas instituições. E isso tudo porque nem entramos na discussão filosófica do que significa ser “a melhor”…

ATUALIZAÇÃO – RODADA DE BÔNUS!

Rapidamente, por meio dos comentários dos meus queridos e fiéis leitores, percebi que deixei de fora na lista acima um outro efeito importantíssimo… funciona como uma espécie de complemento ao primeiro ponto levantado pelos leigos. É quase imperdoável o esquecimento, mas aqui vai:

“Mas você ainda bebe cerveja normal?”

O primeiro ponto, aqui, é deixar claro que não existe cerveja “anormal”. Existe, sim, uma imensa gama de variedades com as quais o brasileiro – e muitos outros povos – deixou de ter familiaridade. Digo “deixou” porque, mesmo no Brasil, estilos diferenciados como stouts, weissbiers e outros eram produzidos por diversas cervejarias (até as que hoje são “macros”) até, mais ou menos, a metade do século passado. Respondendo à questão em si, há quem ache pecado beber sem compromisso uma “loura gelada normalzinha” no boteco… É um comportamento adotado, em geral, pelos “cristãos-novos” da cerveja, os recém-convertidos, que acham o máximo demonizar a utilização de adjuntos como milho e arroz na cerveja. Costuma ser uma fase, como já expliquei em outro post, e a tendência é que as pessoas evoluam para uma visão mais tolerante. Freud disse certa vez, segundo a lenda, em resposta a alunos que tentavam associar seu hábito de fumar charutos a uma fixação oral, que às vezes, um charuto é apenas um charuto. Com as cervejas não é diferente. Às vezes, a cerveja é só uma cerveja, algo para beber descompromissadamente com os amigos.

Deixe uma resposta